Garçom, aqui nessa mesa de bar...

Não me peguntem como. Mas tem um calouro de jornalismo que conhece as músicas do Riginaldo Rossi. E eis que no meio da bebedeira do Jantar de Curso, ele me solta essa pérola...

Meu "jantar" de curso

Há mais ou menos uma semana atrás passou uma circular na sala de aula convidando os alunos de jornalismo para o "Jantar de Curso". Esses jantares são uma tradição da Universidade de Coimbra e acontecem com uma certa frequência. A circular dizia que o lugar era muito chic e que "deveríamos nos comportar no recinto", e bla bla bla. Mais abaixo dizia que pela bagatela de 8 Euros iríamos desfrutar de um prato de não sei o que lá de Champigons, com direito, ainda, a vinho pra completar a cena do jantar (coisa fina).

O jantar começou bem, ou melhor, começou da maneira que todo jantar de curso, supostamente, deve começar. Uma conversa fiada aqui, uma piada acolá. O lugar um tanto requintado escolhido pro evento combinava com o tom "familiar" da coisa.

Todos os alunos foram devidamente vestidos com o traje tradicional da Universidade de Coimbra. Uma vestimenta preta que combina ares de "professorinha", com uma referência indiscutível à roupa do bruxinho Harry Potter. Existe todo um código para usá-la. Aos calouros
é vetado o "prazer e orgulho" de usar o traje. E não é permitido em hipótese alguma lavar a capa preta durante o tempo que você passar na universidade (4 anos, no mínimo).

Pois bem. Voltando ao jantar... Depois de algumas (poucas) horas o(s) vinho(s) começou(aram) a fazer(em) efeito(S). Todo o clima familiar do jantar foi deixado de lado e
(em bom brasileiro) a "putaria generalizada" começou. Músicas que exaltavam a virilidade dos estudantes de jornalismo, seguiam-se a gritos de guerra tradicionais da universidade... e pra aquilo lá virar carnaval só faltava mesmo um samba ou frevo. O resultado do "jantar" tá aí embaixo.

Camelô Religioso


Semana passada fui à cidade de Fátima com mais alguns brasileiros que também estão de erasmus aqui em Coimbra. De "autocarro" (como eles chamam "ônibus") a viagem dura cerca de 1h30. Fui mais pela curiosidade e pela história do lugar, do que pelo meu lado religioso. Mas devo admitir que o lado religioso acabou pesando um pouco. Estudei num colégio católico, sabia parte da história da "santa que apareceu pra três criancinhas: Jacinta, Lúcia e Francisco...".

Fiquei impressionado com a suntuosidade da basílica que levou 25 anos para ser construída. Uma construção de impressionar, cheia de detalhes, um verdadeiro milagre da engenharia. E também com os peregrinos que chegam de todas as partes do mundo para pagar promessas e não exitam em dar voltas e mais voltas ajoelhados nos arredores da basílica.

Mas o que realmente me impressinou foi ver a que nível a pequena cidade de Fátima, com 10 mil habitantes, está mergulhada na história da aparição da Santa. Assim que desci na rodoviária a primeira coisa que vi foi um um jovem, com seus 22 anos, atirando um líquido no carro. Cheguei mais perto pra ver do que se tratava e vi escrito no recipiente branco: Água de Fátima. O tiozinho estava abençoado o poçante com água benta que vendem por lá.

Pra onde quer que se olhe há uma lojinha de artigos religiosos. Elas se amontoam ao longo das ruas principais e em qualquer beco de caiba uma barraquinha. Os mais procurado são os terços. Tem de todos os tipos: de aromatizados a fosforescentes. E os preços variam de €1 a €25. Em muitas lojinhas os produtos de cunho religiosos eram vendidos ao lado de celulares de brinquedo, bonecos do Pokemón, bateria... Cena digna de uma Rua 25 de março em São Paulo. "Tudo em nome da fé", diria alguém.

E, se depois de rezar e fazer compras você se cansar e quiser dormir, pode se hospedar no hotel "Virgem Maria" ou então, se preferir, pode ir comer ou tomar um café num dos vários vários restaurantes . Os nomes não variam muito: "Restaurante da Aparição", "Jacinta", "Cantina da Virgem", "Café do Sagrado Coração"... e por aí vai. Se você for no esquema "mochila nas costas", não se assuste com os preços. Além de muita fé, em Fátima é preciso ter alguns euros a mais se quiser comer algo além de sanduiche. Eu que não sou nada bobo, usei meus "eurônios" e levei comida na mochila. Ainda bem que Deus me fez esperto. :)

Um lugar pra chamar de meu...

Depois de duas semanas morando provisoriamente no Chalet Pedrosa, finalmente me mudei para o meu apartamento (que fica na rua ao lado). Mudança é sempre um transtorno, ter que arranjar um novo lugar pra tudo, "reaprender" o caminho até a cozinha e até o banheiro...

No meu caso, o mais estranho foi ter que aceitar esse novo lar. Não que ele não seja bom. Muito pelo contrário, é ótimo. Mas para quem dormiu a vida inteira no mesmo quarto, do mesmo apartamento, que fica no mesmo endereço, é difícil abrir a porta, ver a nova cama, o novo armário, a nova mesa de cabeceira e amar tudo à primeira vista. A idéia de "essa é minha nova casa" assusta um pouco de início, mas só de início.

O apartamento é bem antigo (aqui é coimbra "bem antigo", é quase da era Jurássica), mas todo equipado e muito bem organizado, (menos o meu quarto que continua uma bagunça infernal). Moramos eu, o Jorge (dos Açores), Ricardinho (português) e a Meike, uma alemã que fala um portunhol engraçado. Para manter o apartamento organizado, decidimos dividir as tarefas de limpeza por semana.

A vizinha de baixo é uma velhinha que parece a Dona Benta. Quando ela me viu subindo com a malas, colocou a cabeça pro lado de fora pela janelinha estreita da cozinha e soltou: "Estás a mudar pra cá? Não pode fazer farra, aqui embaixo mora gente de família e por causa do piso antigo qualquer coisa faz barulho aqui em baixo". Respondi com um sorriso amarelo e subi. Ah, a simpatia Portuguesa... um dia me acostumo.

Pois... o que a velhota não me disse é que era ELA quem fazia muito barulho. Eis que, por sorte do destino, meu quarto fica bem em cima da cozinha dela, o lugar da casa onde ela passa mais tempo. Me mudei há uma semana, mas já sei a hora que ela acorda, o nome dos três netos, do filho, a novela predileta, e sei que ela adora cozinhar alguma coisa que cheira a bife acebolado. Dia desses até tive que escutar uma briga hilária dela com Seu Manoel, o marido. Ele dizia "Isso é meu!", ela respondia "Não! Não! Não!", ele retrucava "Mas fui em que comprei!"...

O segredo é nao se estressar, levar tudo na esportiva, com o jeitinho brasileiro. Depois da nova cama, nova mesa de cabeceira, nova armário e etc, vai ver que a vizinha barulhenta é só mais um "componente" do pacote daquilo que futuramente já estarei chamando de LAR.


 

Copyright 2006| Blogger Templates by GeckoandFly modified and converted to Blogger Beta by Blogcrowds.
No part of the content or the blog may be reproduced without prior written permission.